Fundada em 31 de março de 1989, exatamente 25 anos após o golpe militar de 64, a Casa do Poeta Camaqüense - CAPOCAM, defende acima de tudo, a liberdade de expressão, na crença de que os anos de chumbo da ditadura e da censura prévia, jamais voltarão a instalar-se no Brasil. Para o poeta Catulo Fernandes, um dos fundadores, apesar da história comprovar que, a data do golpe se deu em 1º de abril, e não em 31 de março, o dia escolhido para a fundação da CAPOCAM foi proposital. “Queríamos e buscamos a verdade poética em vez da mentira oficial. A criação da entidade foi, e é a tentativa de um contragolpe a anticultura que assola este país. Não adianta esperarmos que as coisas aconteçam de cima para baixo, temos que começar a luta nas nossas cidades”, assinala.
A CAPOCAM congrega além de Camaquã, município sede, as cidades de Arambaré, Cerro Grande do Sul, Chuvisca, Cristal, Dom Feliciano e Tapes, tendo como Patrono Eterno, Luiz Carlos Barbosa Lessa, Patrona de Honra, Helena Beatriz de Campos Corleta e Patrono Espiritual, Raphael Pires dos Santos. Quando a entidade comemorou o 10º aniversário em 1999, o escritor e historiador Barbosa Lessa, lembrou que o simples fato de ultrapassar uma década, por si só já diz tudo. “Quantas entidades se formam e não chegam sequer ao primeiro aniversário. E a CAPOCAM não só sobreviveu, como tem transmitido sua mensagem de valorização da cultura em geral, e a poesia em particular, às novas gerações”, justificou.
Dentre os objetivos desta entidade sem fins lucrativos, estão a descoberta de novos valores literários, o resgate de autores do passado que não tiveram oportunidade de publicar, além de manter intenso intercâmbio da região centro-sul com outros polos culturais. Dentro desta proposta a CAPOCAM homenageia autores locais como patronos de gestão, bem como contribuiu para a publicação de aproximadamente quarenta novos títulos. Para verificar-se a dimensão desta Casa de Poesia, basta traçar um paralelo com o passado: em 125 anos de emancipação, o município registrava a edição de apenas seis obras. “A CAPOCAM não é um patrimônio dos poetas, e sim da cultura camaqüense”, destaca Álvaro Santestevan, primeiro presidente e idealizador da entidade.
Diversos eventos são promovidos pela Casa, o mais tradicional, o Cafezinho Poético-Musical, com aproximadamente 80 apresentações. A Semana da Poesia em sua 13ª edição e a participação ativa em feiras de livros são outras atividades, bem como o lançamento de livros com sessão de autógrafos, palestras e recitais em escolas, debates e reuniões literárias, incluindo o Encontro Latino de Casas do Poeta e o Congresso Brasileiro de Poesia, além do Encontro Estadual de Escritores.
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SEDE SOCIAL DA CAPOCAM |
Com um quadro em torno de sessenta associados, muitos deles com premiações em concursos literários, obras individuais, e participação em coletâneas de vários estados brasileiros, a CAPOCAM segue sua jornada, procurando através do empenho de sua diretoria e associados, divulgar a cultura e mais precisamente, a literatura camaqüense no contexto artístico gaúcho e nacional. Para a ex-presidente Inez Ramos Crespo, primeira mulher a publicar uma obra poética na região, não há distinção no quadro social. “O iniciante e o autor mais experiente são iguais na Casa do Poeta. Em nosso meio não há espaço para discriminações”, apregoa.
A entidade que durante alguns anos contou com uma sede, através de convênio com a Câmara Municipal de Vereadores, período em que administrou a Biblioteca Pública daquele órgão Legislativo, após uma década dedicada à cultura, recebeu do poder público, um novo espaço, localizado na praça Silvio Luiz, Largo da Matriz, tornando-se a única entidade no país a ter uma sede social numa praça. Aliás, o local abrigava animais silvestres e era conhecido como a “praça dos macacos”. Os associados da CAPOCAM brincam dizendo que os macacos evoluíram e tornaram-se homens, e os homens por sua vez transformaram-se em poetas. O presidente na época da conquista, Valtencir Gama, lembra que, o ato de fundação da entidade aconteceu na extinta Casa da Cultura, logo depois elevada ao status de Secretaria, pelo então prefeito José Cândido de Godoy Netto; o mesmo que dez anos depois concedeu este importante local para a Casa do Poeta desenvolver suas atividades, promovendo ainda mais a cidade de Camaquã. “Esta é uma conquista do povo camaqüense, desde o mais humilde operário até o profissional mais graduado, porque assim como a educação, o homem não vive sem poesia”, resume.
A atual presidente Erotildes Citrini ressalta que após a fundação, além das obras individuais, a entidade lançou quatro coletâneas poéticas: “E por falar em poesia” (1990), “Luz, poesia, ação” (1991), “A palavra descoberta” (2000) e “Poesia pela paz” (2004). A CAPOCAM desenvolveu ainda o projeto “Meu primeiro livro meu primeiro autógrafo” com a edição de “Histórias de Crianças” contemplando quatro escolas locais (E. E. Manoel da Silva Pacheco, E. E. Sete de Setembro, E. M. Marina de Godoy Netto e escola infantil Toquinho de Gente), com o objetivo de despertar o interesse pela leitura e descobrir novos autores. Afora estas publicações, a entidade divulgou suas atividades no informativo “Voz da Cultura” (1990), no jornal Gazeta Regional, através do espaço “Notícias da CAPOCAM” e no jornal alternativo “Culto & Grosso”, além da constante divulgação nos mais diversos órgãos da imprensa.
A entidade tem vínculo direto com a Casa do Poeta Riograndense (CAPORI), a Casa do Poeta Brasileiro (POEBRAS) e a Casa do Poeta Latino-Americano (CAPOLAT). Atualmente a CAPOCAM é considerada uma das instituições literárias mais ativas do interior do Estado, sendo convidada para eventos em todo o Rio Grande do Sul.